O senhor dos covos
Aluno: Elias dos Santos Marinho
Não há nada melhor do que fazer o
que a gente gosta! Escrever, rimar ou cronicar. Tanto faz! O importante é liberar
o olhar encardido para o meu quintal.
O que a mente me traz pro dia de hoje
são os covos. Ontem, andando pelas trilhas que nos levam à Fonte da Juventude,
sob um sol de rachar os miolos, até de um menino como eu, encontrei o Meu
Senhor.
Sentado em um toco de uma jaqueira, o mestre fumava um cigarro
apavorante. No meio de talas e cipós, o cheiro do fumo incendiava o pasto. E o
velho senhor, lá, ruminando os sonhos de quem acredita ainda na natureza para
arrancar alguns trocados.
De cócoras, tasquei um olhar para o poço e refletido nas águas aluviadas
do riacho: o Senhor dos Covos. Aquela cena me lembrava a de um guerreiro, o
Zumbi dos Palmares, rompendo o limite entre a luta, o golpe, e o destino.
E as lutas daquele senhor negro são
muitas: uma delas é ser o construtor de covos. Meu Senhor agarra camarão com
eles, depois vende na feira e entrega o dinheiro para sinhá Maria.
Pense em um trabalho miúdo de doer.
Depois de cortar a taboca em pequenas talas, o artista usa uma espécie de cipó
par enredar cada haste, fazendo uma espécie de cone. E são esses covos que os
pescadores daqui usam para pescar camarões. “Ás vezes, a lontra nos tira a
renda do dia”, reclama Zé Neguinho, olhando pra mim, quase que gemendo.
Nesse momento foi a minha barriga que
gemeu. Roncou, roncou feio! Encolhi-me.
— Tá com a pança roncando, menino?
— Não, senhor!
— Se quiser chegue pra cá e pegue um
pedaço de pé de moleque, pois, camarão, só amanhã!
Não disse mais nada, emudecido fiquei
a contemplar aquele homem com as suas pelejas para sobreviver. A força dele me
comove e me leva a ver entre as bananeiras daquela fonte, as fitas coloridas
daquele mestre, o Mateus do Reisado. O seu canto agora invade meus pensamentos.
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Continuo minha sina. Olho pra trás e
vejo lá longe o Senhor dos Covos, a afinar as talas.
Pego-me cantando “Já chegou as onze
estrelinhas...”, não tenho dúvida que ele é umas das onze estrelinhas, e com o
seu raio dourado ainda vai iluminar muitas outras histórias de resistência. O
vaqueiro, o marcador, o cantor, o rezador, o toador, o pescador...
Enquanto ainda o camarão resistir, o
Senhor dos Covos estará nas canoas da vida, fazendo as águas carregarem o peso
do fazer do povo.
Professor:
Luciano Acciole Gomes
Escola:
E. M. Vereador João Prado – Japaratuba (SE)