sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Finalista - Crônica - 2012

O senhor dos covos

                                                                                   Aluno: Elias dos Santos Marinho

           Não há nada melhor do que fazer o que a gente gosta! Escrever, rimar ou cronicar. Tanto faz! O importante é liberar o olhar encardido para o meu quintal.
          O que a mente me traz pro dia de hoje são os covos. Ontem, andando pelas trilhas que nos levam à Fonte da Juventude, sob um sol de rachar os miolos, até de um menino como eu, encontrei o Meu Senhor.
          Sentado em um toco de uma jaqueira, o mestre fumava um cigarro apavorante. No meio de talas e cipós, o cheiro do fumo incendiava o pasto. E o velho senhor, lá, ruminando os sonhos de quem acredita ainda na natureza para arrancar alguns trocados.
          De cócoras, tasquei um olhar para o poço e refletido nas águas aluviadas do riacho: o Senhor dos Covos. Aquela cena me lembrava a de um guerreiro, o Zumbi dos Palmares, rompendo o limite entre a luta, o golpe, e o destino.
          E as lutas daquele senhor negro são muitas: uma delas é ser o construtor de covos. Meu Senhor agarra camarão com eles, depois vende na feira e entrega o dinheiro para sinhá Maria.
         Pense em um trabalho miúdo de doer. Depois de cortar a taboca em pequenas talas, o artista usa uma espécie de cipó par enredar cada haste, fazendo uma espécie de cone. E são esses covos que os pescadores daqui usam para pescar camarões. “Ás vezes, a lontra nos tira a renda do dia”, reclama Zé Neguinho, olhando pra mim, quase que gemendo.
          Nesse momento foi a minha barriga que gemeu. Roncou, roncou feio! Encolhi-me.
          — Tá com a pança roncando, menino?
          — Não, senhor!
          — Se quiser chegue pra cá e pegue um pedaço de pé de moleque, pois, camarão, só amanhã!
          Não disse mais nada, emudecido fiquei a contemplar aquele homem com as suas pelejas para sobreviver. A força dele me comove e me leva a ver entre as bananeiras daquela fonte, as fitas coloridas daquele mestre, o Mateus do Reisado. O seu canto agora invade meus pensamentos.
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          Continuo minha sina. Olho pra trás e vejo lá longe o Senhor dos Covos, a afinar as talas.
          Pego-me cantando “Já chegou as onze estrelinhas...”, não tenho dúvida que ele é umas das onze estrelinhas, e com o seu raio dourado ainda vai iluminar muitas outras histórias de resistência. O vaqueiro, o marcador, o cantor, o rezador, o toador, o pescador...
          Enquanto ainda o camarão resistir, o Senhor dos Covos estará nas canoas da vida, fazendo as águas carregarem o peso do fazer do povo.

Professor: Luciano Acciole Gomes
Escola: E. M. Vereador João Prado – Japaratuba (SE)





O tradicional sábado

                                                                        Aluna: Larissa Rebeca de Araújo Nobre

          São cinco horas da manhã de sábado. Brisa suave, cheiro de natureza e dia de correria. Acordo mais cedo para acompanhar a rotina da minha casa que é semelhante ao vaivém que se instala na minha cidade nesse dia. As ruas principais estão movimentadas, carros lotados vindos dos sítios vizinhos. As pessoas costumam acordar cedo para encontrar frutas e verduras ainda bem frescas na feira livre.
          Sempre acompanho minha mãe nas compras da semana. Passamos os olhos por quase todas as bancas enfeitadas com o colorido das frutas e, após precioso tempo escolhendo o menor preço e a melhor mercadoria, enchemos nossas sacolas e ficamos mais pesadas. Sentimos fome e não resistimos a um delicioso copo de salada, vendido ali mesmo, para enganar o estômago.
          Com o vaivém entre as bancas, pessoas se esbarram, se tocam involuntariamente. É possível
sentir diferentes aromas que se misturam com o passar das horas. Suor, perfume das frutas, fumaça
de cigarros se entrelaçam com os variados sons de gargalhadas, sussurros, gritos dos feirantes, anúncios em sons improvisados que se propagam por todo o ambiente.
          Nesse dia as lojas fazem a festa, os taxistas e motociclistas descansam menos, os bancos da
praça principal são mais visitados e a Igreja Matriz de São Sebastião se alegra com a quantidade de fiéis. Muitas vezes a feira livre de minha cidade também é palco para o reencontro de amigos, familiares, compadres, pessoas que moram em sítios distantes, além de ser um ótimo momento para se fazer novos amigos e conquistar novos amores.
          Como tudo que é bom dura pouco, a feira enfim termina. As bancas desaparecem levando toda essa agitação. Ficam as ruas cheias de lixo espalhado por todos os lados. Entram em cena os
garis que, em poucas horas, devolvem ao local o seu aspecto natural.
          Por ser uma cidade pequena, Florânia torna-se invisível aos olhos de muitos. Porém tenho orgulho e sinto prazer em ver minha cidade cultivar tradições como a feira livre, mostrando que ainda preservamos nossa cultura.
                                   Professora: Judileide Silva Morais

                                  Escola: E. E. Teônia Amaral Ensino Médio e EJA – Florânia (RN)

Finalista - Crônica - 2012

Os meninos da feira de Picuí

                                                                                          Aluna: Jéssica Lopes da Silva

           Toda sexta-feira à noite na cidade de Picuí, a “Rua da Feira”, como todos denominam a Rua Manoel Gregório, fica tumultuada com a chegada dos feirantes que se preparam para a feira do dia seguinte.
          Na madrugada de sábado os meninos do frete descem pelas ruas com suas carroças, e apesar do sono e do frio estão sempre felizes, conversando e em altas gargalhadas vão quebrando o silêncio da madrugada.
          Eles vêm de todos os bairros, e é no clima de calor humano que alguns descem a ladeira do Limeira, outros vêm do Cenecista, do São José, e até mesmo os que moram no Centro e no Pedro Salustiano próximo à feira.
          E ao chegarem os grupos de meninos se dividem, pois cada um já tem os seus fregueses, e lá vão, em busca de seus fretes, rua acima e rua abaixo...
          Aos primeiros raios do sol, a tranquilidade da feira vai sendo gradativamente substituída pelo tumulto dos feirantes na disputa pelos fregueses, que aos poucos enchem a feira, pechincham, conversam, compram as verduras e as frutas da semana, e, ao lado, os meninos com suas carroças... “Quer frete?”
          E assim os meninos vão passando a manhã, pra lá e para cá, ganhando algum dinheiro, que mais tarde chega o momento tão esperado... Quando o movimento diminui, os meninos vão mais uma vez se reunirem para lanchar, racham o refrigerante, comem salgados, bolo... Põem o papo em dia, fazem algazarras. É tanta alegria que contagia!
          Para os meninos do frete é mais que um lugar de trabalho, é nesse dia que levam alguma fruta e verdura pra casa, é onde eles aprendem a ter responsabilidade, compromisso, e muitos fazem porque gostam; outros, pela necessidade; outros, pela independência de ter seu próprio dinheiro. Os meninos da feira partem em busca de oportunidades...
          “Quer frete?”

Professora: Renata Santos Silva
Escola: E. M. E. F. Severino Ramos da Nóbrega – Picuí (PB)


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Finalista - crônica - 2012

Rua Fantasma

                                                                                 Aluno: Erick Peter Melo Brooman


          A rua onde moro, chamo carinhosamente de “Rua Fantasma”. Acordo todos os dias às cinco da manhã e parto para minha jornada de treino. Sigo pelo caminho vazio e os únicos seres que vejo são cães que me olham fixamente como se estivessem tramando algo. Às vezes, acho que eles vão me atacar. Volto para casa e vejo um casal de velhinhos caminhando com um ritmo lento, quase parando. Pergunto-me se vou chegar àquela idade e concluo que não vale a pena chegar a uma etapa tão frágil. Penso se alguém cuidará de mim.
          Tantas pessoas quanto de manhã tem à noite. Volto às 22 horas e fico realmente impressionado com o vazio da rua e a falta de vida. Olho em volta e não vejo nada além de uma árvore quase morta pela falta d’água. Diferente da manhã, à noite o que me acompanha pela solitária caminhada são gatos que, diferentemente dos cães, vivem soltos. E isso me dá mais medo do que possa acontecer.
          Existem prédios e mais prédios, pessoas e mais pessoas atrás de portas fechadas em si mesmas, vários mundos num mesmo espaço. Tanta gente e nenhum contato com o silêncio do próximo, nenhum diálogo. Questiono-me se possuem alma ou se a sociedade já se encarregou de sugá-las. Rostos vazios e olhos sem brilho, aparência triste e solitária de pessoas que ora me assustam, ora me fazem sentir pena, nos raros momentos em que nos cruzamos. Pessoas com quem eu convivia vêm em minha direção. Passam por mim, mas acho que para elas não existo.
          Essa é a Rua Baltazar da Silva Lisboa, em Recife. Mas para mim, sempre será a Rua Fantasma, cheia de corpos vazios, sem alma nem sentimentos.

Professora: Beatriz Coelho da Silva

Escola: E. R. E. M. Oliveira Lima – Recife (PE)

Finalista - crônica - 2012

Cidade qualquer, dia qualquer

                                                                                         Aluna: Izabela Garcia Roman


          Cidade pequena, cidade comum, cidade qualquer, como um dia cantou o poeta. Cidade que o mundo desconhece e onde o sol vigoroso, quase todos os dias, aparece inexorável, pondo fim à solidão da noite anterior. Como em um dia qualquer, o galo vem roubar seu descanso, anunciando em alto e bom tom, o recomeço da batalha pelo pão nosso de cada dia.
          Como um teleguiado, guia seus passos na direção do grande e mal iluminado barracão. Roboticamente, bate o cartão de ponto. Claustrofóbico, mal ventilado, lá, amontoam-se tecidos, linhas, agulhas, pessoas, cheiros, sonhos, frustrações. Tudo costurado pelo tremendo “tritritri” das máquinas que tremem ao sabor do trabalho das costureiras que, como ela, calam-se diante da conhecida sinfonia.
           Grande fonte de renda da região, as fábricas de jeans proliferam-se no entorno da cidade e, parecem ainda, surgirem da noite para o dia.
          Toma do tecido áspero. Sem emoção, desliza-o sobre a máquina. Vê suas mãos sobre ele. Por um instante duvida: serão realmente suas? Mãos azuis que confirmam que está lá! Suas preocupações costuram-se ao interminável e monótono ritmo que mora, há três anos em sua cabeça: as contas para pagar... tritritri... as crianças na esco... tritritri... o marido desemprega... tritritri... os... tritritri...
            O tempo passa nessa melodia sem fim. Repentinamente, outro som se sobrepõe à entediante orquestra, desfazendo no ar o tecido feito de retalhos de pensamentos. O apito cessa. Levanta-se. Sai. Coberta de céu, alinhava mais um dia.

Professora: Panagiota Thomas Moutropoulos Aparício
Escola: E. M. E. F. Prof. Athayr da Silva Rosa – Urupês – SP



Finalista - crônica - 2012

Sessenta minutos

                                                                                                     Aluna: Viviane Marins Guimarães
                                                                                                      (Texto finalista na OLP 2012)


           O despertador do celular toca. Soneca. Soneca. Mais cinco minutos. Não dá mais, tenho de levantar. São 5h45 e eu ainda estou com muito sono. Paciência, se não levantar agora, bye-bye escola. O ônibus passa às 6h10 e se eu não chegar a tempo, só daqui à uma hora. Coisas de quem vive na Posse, um paraíso escondido sob nuvens de poeira da estrada de chão.
          É impressionante como o tempo voa quando a gente está atrasada. Tudo feito: uniforme, livros, mochila, café... O horário está apertado, mas estou pronta para sair. Passos rápidos até o ponto; cheguei. Mas algo está errado, muito silêncio e muita poeira. A matemática não falha: silêncio + vazio + poeira = o amarelinho passou. Sabia que isso ia acontecer, culpa daquela soneca a mais. Não tem muita escolha, uma hora de espera. Se ao menos desse para voltar para a cama... Melhor não arriscar.
           Em sessenta minutos é possível se pensar em muita coisa, principalmente quando se está sozinha em um lugar quase desértico. Ainda sob o efeito da irritação pelo atraso, que a diretora não me deixará esquecer, penso nas contradições do lugar onde vivo: sou do Rio de Janeiro (tudo bem que Tanguá fica um pouquinho distante e a Posse faz parecer um outro continente) e quanta coisa vai acontecer por aqui! As Olimpíadas e a Copa do Mundo prometem trazer muitas novidades, o Brasil ficará mais moderno do que nunca. Prédios, estádios, metrô... e eu, parada em um ponto de ônibus, engolindo poeira do estradão. Se eu contar isso no Facebook para qualquer pessoa de outro lugar do mundo, acho que vão dizer que é piada.
          Pensei, cantei, falei sozinha, tirei cutícula e ainda são 6h54. É impressionante como o tempo engatinha quando a gente está esperando o amarelinho. Os dezesseis minutos restantes até a chegada do ônibus foram de completo vazio, nem dá para contar. Dezesseis não, dezenove. O ônibus atrasou três minutos, só porque eu não precisava, sempre assim.
          Chegando à escola, nenhuma novidade. Sermão da diretora, desculpa ao professor, implicância dos colegas da turma. Pareceu uma eternidade, mas comecei meu dia de aula, enfim. No quadro, o professor de geografia explica sobre globalização, sobre como a noção de tempo mudou com o passar dos anos. Nos dias de hoje, em uma hora, muita coisa acontece e muita coisa muda no mundo. Mas no mundo de quem? Se eu contar isso no Facebook para qualquer pessoa, acho que vão dizer que é piada.
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Professor: Wagner da Conceição Trindade

Escola: E. M. Ernestina Ferreira Muniz – Tanguá (RJ)

sábado, 3 de setembro de 2016

Xintoísmo

 Xintoísmo é uma crença religiosa que surgiu no Japão, formada por uma série de lendas e mitos que explicam a origem do mundo, da vida e da família imperial japonesa.
             O xintoísmo é uma religião baseada no respeito e culto da natureza, sendo considerada uma grande aliada e imprescindível para a existência da vida na Terra. A relação homem-natureza é o ponto central do xintoísmo. Esta é uma crençapanteísta, ou seja, acredita que todos os elementos são Deus (é composto pelas substâncias, forças e leis da natureza). Desta forma, existem vários deuses (kami), cada um responsável por um elemento específico da natureza e do Cosmos.
          Os kamis (deuses) podem ter as mais variadas formas, desde seres humanos, animais, tempestades, pedras, rios, estrelas e etc. No entanto, a principal divindade do xintoísmo é a deusa do Sol Amaterasu Omikami, que, de acordo com a lenda, nasceu a partir do olho esquerdo do deus da criação, Azanagui.
Alguns estudiosos chegam a desconsiderar o xintoísmo como uma religião, pois não possui um dogma estabelecido, uma escritura de leis, código moral ou mesmo um autor ou profeta fundador, a exemplo de outras religiões. Porém, o que torna o xintoísmo uma das mais importantes religiões do mundo é o sua influência sobre os mais variados aspectos da vida de seus seguidores, que adotam a filosofia xintoísta em seus cotidianos mesmo que já tenham outro tipo de crença.
          A receptividade a novas culturas e religiões também é uma das características do xintoísmo, que não se classifica como uma crença exclusivista. O xintoísmo é formado por um conjunto de crenças típicas do Japão, sendo a única religião considerada genuinamente japonesa.
          A palavra xintoísmo surgiu a partir da expressão Kami-no-Michi, que na tradução literal significa "Caminho dos deuses".
          As cerimônias xintoístas podem ser feitas em casa ou nos templos, possuindo quatro principais etapas: a purificação (limpeza da boca e das mãos com água); as oferendas (pequenos amuletos, pinturas e demais objetos); as preces e a festa sagrada.
          Nos rituais xintoístas predomina a necessidade de estabelecer um equilíbrio entre o ser humano e a natureza, que é compreendida como uma guia e parceira do homem. Para chegar a este equilíbrio, é necessária a purificação do corpo e da alma.
          A visão xintoísta de conexão e intimidade com a natureza se opõe ao comportamento do homem ocidental, que enxerga as forças naturais como adversárias, lutando e tentando dominá-la e subjugá-la.
          Atualmente, a estimativa é que cerca de 119 milhões de pessoas pratiquem o xintoísmo no Japão. O número é elevado por causa da falta de exclusividade do xintoísmo como religião, ou seja, muitos japoneses possuem outras crenças e mesmo assim praticam rituais tipicamente xintoístas em casa ou nos templos.
          O xintoísmo ganhou destaque no Japão apenas a partir do século VI. Esta era considerada a religião oficial do império japonês, pois, de acordo com a mitologia local os imperadores do país eram descendentes dos kamis criadores do Japão.
          No entanto, em 1946, com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, o imperador Hiroíto renunciou o caráter divido que era atribuído aos governantes japoneses. Assim, a nova constituição japonesa passou a defender a liberdade religiosa da população.
Deuses do Xintoísmo

          Os deuses do xintoísmo são chamados de kamis, divindades que são representadas pelas mais variadas formas presentes na natureza e no Universo, como rios, pedras, tempestades, estrelas, o Sol, a Lua e etc.
          Existem milhares de kamis, no entanto, na crença xintoísta os principais são: Amaterasu Oo-mikami, a grande deus Sol; Tsukiyomi-no-Mikoto, o deus Lua; e Susano-O-no-Mikoto, o deus do mar e das tempestades.
          De acordo com o xintoísmo, os deuses vivem em um lugar chamadoTakama-no-hara, que significa "Alta Planície do Céu"

Xintoísmo no Brasil

          O xintoísmo no Brasil é praticado por uma pequena comunidade, normalmente formada por descendentes ou imigrantes japoneses.
          O principal Templo Xintoísta do Brasil está localizado no estado de São Paulo e faz rituais e cerimonias em homenagem aos antepassados, além de manter a tradição e a filosofia do xintoísmo entre os japoneses que residem no Brasil.

Xintoísmo e Budismo

          O xintoísmo e o budismo são duas religiões que estão sincretizadas no Japão, pois cerca de 80% dos japoneses praticam os rituais xintoístas atrelados aos preceitos do budismo.       
           O xintoísmo surgiu antes do budismo, no entanto os xintoístas absorveram muitas das crenças dos budistas em seus rituais e filosofia.