domingo, 2 de outubro de 2016

O código

                                                                              Aluna: Gabriela Dalbosco

          Toca o sino. O dia que estava aparentemente normal, muda drasticamente. No colégio a agitação cessa, a sala de aula se resume em baixos sussurros e os corredores se preenchem de silêncio. A pressa estampada no rosto das pessoas se dissolve e dá lugar à preocupação. Ou será à curiosidade?
          Naquela pequena cidade do interior acontecia assim, uma badalada a cada cinco segundos notificava o que ninguém gostava de ouvir. Porém, o fato de ser um barulho indesejável não impedia que, de quando em quando, o sino tocasse; e a forma com que as pessoas reagiam diante do fato era sempre a mesma.
          Aquele era o barulho que os fazia instantaneamente desviar suas atenções e pensamentos para as pessoas de maior valor em suas vidas. Era o “choque de realidade” que recebiam. Era o lembrete de que o tempo é curto e passa depressa; a notificação de que a ordem natural das coisas nunca se altera.
         Mas, nem sempre o badalar do sino espalhava tristeza. Às quintas-feiras, aos sábados e domingos ele funcionava como uma espécie de relógio, avisando às viúvas que era chegada a hora de se arrumar para visitar seu santo conselheiro; confirmando à vovó que o vovô estava certo quando a mandou se apressar com o banho para conseguir um lugar privilegiado entre os bancos; lembrando aos preguiçosos e festeiros que daquela hora em diante o barulho era visto como um sinal de desrespeito. Este badalar constante passava uma sensação rotineira e não causava impacto nas pessoas.
          O outro badalar não. Ele era temido até pela criança rebelde da sala de aula, pois seu avô encontrava-se no hospital. Era temido pela bibliotecária cujo marido fazia bico em uma serraria; e também pela moça que após uma discussão, não teve notícias de seu namorado. Era temido por estampar uma verdade: Ainda não foi encontrada uma solução para reverter o ciclo da vida. E infelizmente, querendo ou não, todos temem a verdade.

Professora: Dirlene Maria Ambrósio da Silva

Escola: E. E. E. B. Aratiba – Aratiba (RS)

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