As
verdes bailarinas
Aluna: Marcella Correa de Almeida
Cooper
Vivi uma infância muito feliz, pois
aproveitei em Quissamã, lugar onde vivo até hoje, cada instante como se fosse
único. Morava perto dos canaviais e, ao olhá-los, via as canas bailando sob um
lençol verde bem esticadinho.
Era dentro dos canaviais que eu,
parecendo um mosquitinho de tão pequenina, brincava sentindo o cheiro adocicado
de melado. Que sensação maravilhosa! As canas eram tão doces e suculentas que
não dava para resistir. Lá eu ficava tão encantada que não via o tempo passar
e, logo, anoitecia. Dava para ver o céu bordado de estrelas brilhantes,
cintilantes... Nossa! Aquilo era um sonho para mim!
As canas eram as minhas amigas e
confidentes, mas elas também desabafavam para mim seus temores das queimadas.
Naquele momento, sentia-me muito triste e de coração partido. Eu era apenas uma
criança, o que poderia fazer para ajudá-las? Pedia ajuda às nuvens, que mais
pareciam algodão-doce de tão fofinhas, na intenção de que elas fizessem chover
durante as queimadas e, assim, apagasse o fogaréu. Mas nem sempre elas podiam
ajudar. Fazer o quê? A vida aqui era cheia de altos e baixos!
As canas tinham a época da colheita, a
qual eu não podia impedir. Apenas olhava os boias-frias incendiarem os
canaviais e sentia que parte de mim se definhava em meio à fumaça. As nuvens,
que antes eram alegres e límpidas, diante daquele vapor e daquela escuridão,
compartilhavam da minha tristeza e amargura.
Então era assim: vivia dias sem a
companhia das canas e outros, encantadores com elas, os quais até hoje tenho em
minha memória e que tempo nenhum os apagará. Guardo-os como meus tesouros. Valeria
a pena reviver toda a infância novamente em minha cidadezinha, pois, quando as
canas cresciam depois da colheita, era uma paisagem esplendorosa!
Minhas amigas eram como um bálsamo
para a rotina do meu pequeno mundo. Afinal, era com as verdes bailarinas que eu
cantava e dançava cantigas de roda. Dava gosto viver nesse meu recanto
contemplando as maravilhas que a natureza me proporcionava. Não tem como não
ter saudades!
(Texto baseado na entrevista feita com a
senhora Márcia Firmino Peroba.)
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