domingo, 2 de outubro de 2016

Menino ladino

                                                                                Aluna: Mara Domingos da Silva

           No mês de agosto, a minha cidade recebe a visita de um menino malandro e muito agitado. Logo pela manhã, quando acordo, já ouço o seu assobio melodioso. Tomo o meu café rapidamente e vou para fora. Lá encontro o menino e ele já começa a me provocar, bagunçando os meus cabelos, sacudindo as minhas roupas, quase me carregando para onde ele vai, mas fico firme e sigo em frente. Por um minuto ele some, e logo volta, com mais força, levando consigo os aromas da natureza e das pessoas que encontra.
          Vou para a escola e ele me acompanha com muita alegria. Toca o sinal para começar a aula e tenho que deixá-lo lá fora. Mas, quando olho pela janela, vejo o moleque convidando as árvores. Viro-me para prestar atenção no que a professora diz, de repente alguém bate à janela buscando atenção, olho e não vejo nada, então fico atenta, a fim de escutar o seu chamado suave. Uma batida na porta. A professora abre prontamente, ele entra com felicidade e carrega tudo que vê pela frente: papéis, lápis, cortinas... Entretanto, o que ele mais gosta de carregar são os nossos cabelos. Ah! Menino ladino!
          À tarde eu vou para a fazenda e o menino vai comigo, cantando de um jeito que só ele sabe: ssssssss. Nas lavouras de trigo até parece um professor que ensina os alunos a dançar balé. É lindo ver a plantação sendo conduzida por ele, em ondas, em voltas e reviravoltas.
          Volto para casa e ele me acompanha, invade a minha vida e com insistência me convida para brincar. Às vezes, resolve seguir outras direções e desaparece. Depois de algum tempo retorna, ora discreto, ora atrevido, disposto a não mais nos deixar. À noite, quando me deito e a cidade fica em silêncio ouço o seu canto novamente, parece que está cantarolando uma canção de ninar para eu dormir, fecho os olhos e tenho a impressão de ouvi-lo sussurrar ao meu lado e assim adormeço.
          Quando setembro chegar ele irá embora, deixando um rastro de saudade no ar. Assim são os ventos do mês de agosto em São Pedro do Iguaçu: um moleque arteiro que vive a aprontar, deixando tudo fora do lugar.

Professora: Lucilene Aparecida Spielmann Schnorr

Escola: C. E. E. F. M. São Pedro – São Pedro do Iguaçu (PR)

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