quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Finalista - crônica - 2012

Rua Fantasma

                                                                                 Aluno: Erick Peter Melo Brooman


          A rua onde moro, chamo carinhosamente de “Rua Fantasma”. Acordo todos os dias às cinco da manhã e parto para minha jornada de treino. Sigo pelo caminho vazio e os únicos seres que vejo são cães que me olham fixamente como se estivessem tramando algo. Às vezes, acho que eles vão me atacar. Volto para casa e vejo um casal de velhinhos caminhando com um ritmo lento, quase parando. Pergunto-me se vou chegar àquela idade e concluo que não vale a pena chegar a uma etapa tão frágil. Penso se alguém cuidará de mim.
          Tantas pessoas quanto de manhã tem à noite. Volto às 22 horas e fico realmente impressionado com o vazio da rua e a falta de vida. Olho em volta e não vejo nada além de uma árvore quase morta pela falta d’água. Diferente da manhã, à noite o que me acompanha pela solitária caminhada são gatos que, diferentemente dos cães, vivem soltos. E isso me dá mais medo do que possa acontecer.
          Existem prédios e mais prédios, pessoas e mais pessoas atrás de portas fechadas em si mesmas, vários mundos num mesmo espaço. Tanta gente e nenhum contato com o silêncio do próximo, nenhum diálogo. Questiono-me se possuem alma ou se a sociedade já se encarregou de sugá-las. Rostos vazios e olhos sem brilho, aparência triste e solitária de pessoas que ora me assustam, ora me fazem sentir pena, nos raros momentos em que nos cruzamos. Pessoas com quem eu convivia vêm em minha direção. Passam por mim, mas acho que para elas não existo.
          Essa é a Rua Baltazar da Silva Lisboa, em Recife. Mas para mim, sempre será a Rua Fantasma, cheia de corpos vazios, sem alma nem sentimentos.

Professora: Beatriz Coelho da Silva

Escola: E. R. E. M. Oliveira Lima – Recife (PE)

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