Sessenta minutos
Aluna: Viviane Marins Guimarães
(Texto finalista na OLP 2012)
O despertador do celular toca. Soneca. Soneca. Mais cinco minutos. Não
dá mais, tenho de levantar. São 5h45 e eu ainda estou com muito sono.
Paciência, se não levantar agora, bye-bye escola. O ônibus passa às 6h10 e se eu não
chegar a tempo, só daqui à uma hora. Coisas de quem vive na Posse, um paraíso
escondido sob nuvens de poeira da estrada de chão.
É impressionante como o tempo voa quando a gente está atrasada. Tudo
feito: uniforme, livros, mochila, café... O horário está apertado, mas estou
pronta para sair. Passos rápidos até o ponto; cheguei. Mas algo está errado,
muito silêncio e muita poeira. A matemática não falha: silêncio + vazio +
poeira = o amarelinho passou. Sabia que isso ia acontecer, culpa daquela soneca
a mais. Não tem muita escolha, uma hora de espera. Se ao menos desse para
voltar para a cama... Melhor não arriscar.
Em sessenta minutos é possível se pensar em muita coisa, principalmente
quando se está sozinha em um lugar quase desértico. Ainda sob o efeito da
irritação pelo atraso, que a diretora não me deixará esquecer, penso nas
contradições do lugar onde vivo: sou do Rio de Janeiro (tudo bem que Tanguá
fica um pouquinho distante e a Posse faz parecer um outro continente) e quanta
coisa vai acontecer por aqui! As Olimpíadas e a Copa do Mundo prometem trazer
muitas novidades, o Brasil ficará mais moderno do que nunca. Prédios, estádios,
metrô... e eu, parada em um ponto de ônibus, engolindo poeira do estradão. Se
eu contar isso no Facebook para qualquer pessoa de outro lugar do mundo, acho
que vão dizer que é piada.
Pensei, cantei, falei sozinha, tirei cutícula e ainda são 6h54. É
impressionante como o tempo engatinha quando a gente está esperando o
amarelinho. Os dezesseis minutos restantes até a chegada do ônibus foram de
completo vazio, nem dá para contar. Dezesseis não, dezenove. O ônibus atrasou
três minutos, só porque eu não precisava, sempre assim.
Chegando à
escola, nenhuma novidade. Sermão da diretora, desculpa ao professor,
implicância dos colegas da turma. Pareceu uma eternidade, mas comecei meu dia
de aula, enfim. No quadro, o professor de geografia explica sobre globalização,
sobre como a noção de tempo mudou com o passar dos anos. Nos dias de hoje, em
uma hora, muita coisa acontece e muita coisa muda no mundo. Mas no mundo de
quem? Se eu contar isso no Facebook para qualquer pessoa, acho que vão dizer
que é piada.
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Professor: Wagner da
Conceição Trindade
Escola: E. M. Ernestina
Ferreira Muniz – Tanguá (RJ)
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