quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Finalista - crônica - 2012

Sessenta minutos

                                                                                                     Aluna: Viviane Marins Guimarães
                                                                                                      (Texto finalista na OLP 2012)


           O despertador do celular toca. Soneca. Soneca. Mais cinco minutos. Não dá mais, tenho de levantar. São 5h45 e eu ainda estou com muito sono. Paciência, se não levantar agora, bye-bye escola. O ônibus passa às 6h10 e se eu não chegar a tempo, só daqui à uma hora. Coisas de quem vive na Posse, um paraíso escondido sob nuvens de poeira da estrada de chão.
          É impressionante como o tempo voa quando a gente está atrasada. Tudo feito: uniforme, livros, mochila, café... O horário está apertado, mas estou pronta para sair. Passos rápidos até o ponto; cheguei. Mas algo está errado, muito silêncio e muita poeira. A matemática não falha: silêncio + vazio + poeira = o amarelinho passou. Sabia que isso ia acontecer, culpa daquela soneca a mais. Não tem muita escolha, uma hora de espera. Se ao menos desse para voltar para a cama... Melhor não arriscar.
           Em sessenta minutos é possível se pensar em muita coisa, principalmente quando se está sozinha em um lugar quase desértico. Ainda sob o efeito da irritação pelo atraso, que a diretora não me deixará esquecer, penso nas contradições do lugar onde vivo: sou do Rio de Janeiro (tudo bem que Tanguá fica um pouquinho distante e a Posse faz parecer um outro continente) e quanta coisa vai acontecer por aqui! As Olimpíadas e a Copa do Mundo prometem trazer muitas novidades, o Brasil ficará mais moderno do que nunca. Prédios, estádios, metrô... e eu, parada em um ponto de ônibus, engolindo poeira do estradão. Se eu contar isso no Facebook para qualquer pessoa de outro lugar do mundo, acho que vão dizer que é piada.
          Pensei, cantei, falei sozinha, tirei cutícula e ainda são 6h54. É impressionante como o tempo engatinha quando a gente está esperando o amarelinho. Os dezesseis minutos restantes até a chegada do ônibus foram de completo vazio, nem dá para contar. Dezesseis não, dezenove. O ônibus atrasou três minutos, só porque eu não precisava, sempre assim.
          Chegando à escola, nenhuma novidade. Sermão da diretora, desculpa ao professor, implicância dos colegas da turma. Pareceu uma eternidade, mas comecei meu dia de aula, enfim. No quadro, o professor de geografia explica sobre globalização, sobre como a noção de tempo mudou com o passar dos anos. Nos dias de hoje, em uma hora, muita coisa acontece e muita coisa muda no mundo. Mas no mundo de quem? Se eu contar isso no Facebook para qualquer pessoa, acho que vão dizer que é piada.
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Professor: Wagner da Conceição Trindade

Escola: E. M. Ernestina Ferreira Muniz – Tanguá (RJ)

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