RIR COM O CÉREBRO
Martha Medeiros.
Abra uma revista feminina e estarão lá
todas as dicas para a felicidade eterna: como fazer um casamento durar, como
relacionar-se bem com seu chefe, como manter uma amizade, etc., etc. Quem leu
uma reportagem leu todas: elas são unânimes em dizer que é fácil descomplicar a
vida. Será?
Existe, sim, uma maneira de dar alívio
imediato para as agruras da nossa sacrossanta rotina. Anote aí a palavra
mágica: humor.
Nada de novo no front. A maioria das pessoas
sabe que o humor é o melhor paliativo para o caos emocional em que vivemos. Só
que não funciona para todos: um grande contador de piadas não é,
necessariamente, feliz. Humor nada tem a ver com palhaçada. Não é preciso
mostrar todos os dentes.
Humor é uma maneira de enxergar o mundo.
E o olhar irônico, crítico e, por vezes, benevolente de quem sabe que nada deve
ser levado demasiadamente a sério.
Quantas vezes você viu Woody Allen
gargalhar? E Paulo Francis, Millôr, Verissimo? Ri melhor quem ri com o cérebro.
Muita gente se queixou dos comentários de Arnaldo Jabor na entrega do Oscar. A
troco? Por que ele deveria reverenciar um glamour que acha careta, por que
deveria calar diante da magnificência da festa? Billy Cristal zombou de tudo e
de todos, mas dentro do script. Jabor fez apenas o papel de Jabor: ácido,
independente e do contra. O mau humor também pode ser engraçado, e vale lembrar
que todo humor é transgressor.
O estresse não compensa. Você gastou uma
fortuna num vestido e, quando vai estreá-lo, dá de cara com um par de vaso. Seu
marido disse que ia chegar às oito, mas chegou às dez. Sua mãe disse que iria
buscar os ingressos do teatro, mas esqueceu. O hóspede que iria ficar só dois
dias já está dando ordens para a empregada. Você é entrevistado por alguém que
lhe chama o tempo inteiro de Fernanda, e você é Sílvia desde criancinha. O
cachorro da sua amiga apaixonou-se perdidamente por sua perna. O pão acabou
justo na hora do café. Sua meia-calça desfiou. Seu voo atrasou. Seu cheque
voltou. Ou você passa a ter mania de perseguição ou releva. Depende você sabe
do quê.
Se você ainda não está totalmente
convencida, pense em como faz falta o humor na vida de Itamar Franco e como
sobra na de Rubinho Barrichello.
Repare como aqueles que relativizam as
derrotas têm menos rugas. Pense que, enquanto você controla horário de marido,
arruma briga com o zelador e excomunga meio mundo porque sua unha quebrou, tem
gente cuja filha foi metralhada na porta do colégio ou cujo pai dorme na rua em
busca de uma senha para conseguir atendimento médico. Assovie.
O
que as revistas femininas deveriam receitar é: não acredite em tudo o que
ouve.
Nem em tudo o que diz. Suspenda a descrença quando quiser prazer.
Não
subestime os outros, nem os idolatre demais. Seja educada, mas não
certinha.
Faça coisas que nunca imaginou antes. Não minta, nem conte toda
a
verdade. Dance sozinha quando ninguém estiver olhando.
Divirta-se
enquanto seu lobo não vem.
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